Soa como nota desafinada a notícia de que Charlie Brown Jr. volta à cena na próxima sexta-feira, 25 de janeiro, com show em São Paulo (SP) no dia do aniversário da cidade.
A rigor, a banda paulista morreu há seis anos juntamente com Alexandre Magno Abrão (9 de abril de 1970 – 5 de março de 2013), o Chorão.
Até porque o grupo surgido em Santos (SP) em 1992 se enquadra naquele gênero de banda cuja existência somente se justificou por conta da alma, da personalidade e do carisma de um vocalista fundador que, além de tudo, era o principal criador do repertório do grupo.
No caso, Chorão, que saiu de cena seis meses antes do suicídio do músico paulista Luiz Carlos Leão Duarte Junior (16 de junho de 1978 – 9 de setembro de 2013), o baixista Champignon, também fundador da banda.
Mais do que a voz, Chorão foi o cérebro do Charlie Brown Jr. – assim como Renato Russo (1960 – 1996) foi a mente criadora da Legião Urbana, banda que (sobre)vive em cena, em meio a disputas judiciais, pela saudade que o Brasil tem de Russo e do repertório da turma de Brasília (DF).
Por isso mesmo é estranho que o filho de Chorão, Alexandre Abrão, tenha articulado a ressurreição do grupo santista em turnê nacional intitulada Tamo aí na atividade – Apresenta Charlie Brown Jr. para reavivar o repertório do pai em shows com vocalistas convidados que, no caso do show inicial no Vale do Anhangabaú, serão Dinho Ouro Preto (Capital Inicial), Di Ferrero, Digão (Raimundos), Supla e Panda (La Raza).
A previsão é de que, após esse show de estreia no aniversário de Sampa, a turnê percorra o país a partir de abril com os músicos Marcão Britto na guitarra, Heitor Gomes no baixo e Pinguim Ruas na bateria, além dos vocalistas alternantes. O guitarrista Thiago Castanho, anunciado como músico da banda em nota sobre a volta de Charlie Brown Jr., desmentiu a inclusão dele nesse retorno.
Com ou sem Castanho, uma pergunta fica no ar: qual o sentido dessa volta de Charlie Brown Jr.? Se a intenção é celebrar o legado de Chorão, não seria mais adequado e coerente promover uma exposição, produzir um documentário sobre o artista e/ou vasculhar o acervo da banda para encontrar uma gravação de show que gere disco ao vivo póstumo?
Um show de Charlie Brown Jr. sem Chorão é contrariar o discurso oficial (adotado inclusive pelos promotores da turnê) de que o vocalista era insubstituível. É fazer soar uma nota desafinada porque, no caso, o clichê é verdadeiro: Chorão é mesmo insubstituível, o que somente alimenta a aura de estranheza em torno dessa volta de Charlie Brown Jr., banda que efetivamente morreu há seis anos.