Fazia pouco que Jesus havia chegado à Jerusalém.
Tiago, filho de Zebedeu, e Judas Iscariotes conversavam, em um final de tarde.
Judas, embora amasse Jesus, entendia que Ele não tinha pulso suficientemente firme para quebrar o jugo tirânico que pesava sobre Israel, e não seria capaz de abolir a escravidão que oprimia o povo eleito.
Em sua limitada visão, acreditava que o Nazareno não aproveitava as oportunidades que surgiam, e que Suas pregações evangélicas eram inúteis, pois atraíam apenas pessoas ignorantes e desclassificadas.
Para ele, Jesus deveria ser mais enérgico e altivo.
Precisaria chamar a atenção dos poderosos, das autoridades de Jerusalém e dos prepostos de César para, então, alcançar o reconhecimento devido.
Ante essas equivocadas ideias, Tiago esclareceu que Jesus não tinha a disposição de um guerreiro e que a verdadeira revolução que se buscava era a da edificação do reino de Deus nos corações dos homens.
Lembrou de que Jesus os havia informado de que Seu reino não era deste mundo e que o maior sempre seria aquele que se fizesse menor diante de todos.
As colocações de Tiago apenas irritaram Judas.
Discordando, ele confessou que faria esforços para estabelecer acordos com altos funcionários e homens de importância para imprimir maior movimento às ideias de Jesus.
De nada adiantou Tiago alertá-lo para que percebesse que tal conduta representaria desrespeito à autoridade de Jesus e que as conquistas do mundo são cheias de ciladas para o espírito.
Antes do anoitecer eles se separaram.
Judas acreditava que poderia entregar Jesus aos poderosos em troca de sua nomeação oficial para dirigir as atividades dos companheiros.
Teria autoridade e privilégios políticos que lhe permitiriam organizar a mensagem do Cristo perante o povo, e assim, logo após, teria poder suficiente para libertar Jesus.
Pensava que o Mestre era humilde e generoso demais para vencer sozinho.
Acreditava que ele, somente ele, poderia auxiliá-lO no meio de tanta maldade e violência.
Ao amanhecer, foi ao Sinédrio onde lhe foram feitas as mais variadas promessas.
Dentro de suas limitadas possibilidades, Judas amava Jesus e esperava ansioso o instante do triunfo para oferecer-lhe a alegria da vitória.
Nada, porém, aconteceu como ele supunha.
Jesus foi humilhado, supliciado e conduzido à cruz, sem queixas e sem nenhuma resistência.
Desesperado, o apóstolo invigilante voltou ao Sinédrio admitindo ter se equivocado.
Foi motivo de gargalhadas e de ácidas zombarias.
O que nos importa? Isso é lá contigo. – Responderam com indiferença.
Ele atirou ao chão as trintas moedas de prata que anteriormente havia recebido e saiu correndo.
Pretendia fugir, escapar da própria consciência.
Nesse afã abandonou a vida, mergulhando nas trevas densas, onde permaneceu por longo e doloroso período.
* * *
Nas mais variadas ocasiões são oferecidas à frágil criatura humana moedas de prata e de ouro, poder e prazer.
Esses tesouros do mundo, no entanto, após recebidos, deixam transparecer seu desvalor, amargando com o fel do arrependimento a existência daquele que se iludiu.
Nesse momento, quando nem sempre o mal pode ser reparado, fugir parece ser a saída mais fácil.
Mas de que se foge, de quem e para onde?
Não há como ludibriar a própria consciência, tampouco a justiça de Deus.
Pensemos nisso.