Esta espécie de joaninha virou uma perigosa predadora da natureza e sua picada pode até matar seres humanos.
Se existe um inseto que não incomoda ou causa repulsa nas pessoas é a joaninha.
Pelo contrário, com seu tom avermelhado e suas simpáticas bolinhas pretas, ela encanta crianças e adultos.
Mas você já percebeu que é cada vez mais raro avistar um bichinho desses voando entre folhas e flores, e mesmo dentro das nossas casas?
É que essa joaninha vermelha, ‘’tradicional’’, está de fato desaparecendo.
Aquelas que os moradores, principalmente de São Paulo têm visto, por exemplo, são bastante diferentes.
A cor é mais alaranjada, bege e até preta.
Elas são maiores e têm as bolinhas com contorno pouco definido.
Não ficam apenas dentro dos vasinhos de plantas, se alimentando de pulgões e de outras pragas típicas de hortas e plantações, mas também estão presentes dentro das casas.
Essa ‘’nova’’ joaninha é uma espécie invasora asiática que veio para o Brasil nos anos 2000 de forma totalmente acidental.
A gente explica: no início dos anos 1990, a Harmonia Axyridis (joaninha asiática) foi levada para Mendoza, na Argentina, como instrumento de combate de pragas agrícolas.
O objetivo era fazer controle biológico dessas pragas em plantações de pêssego.
No Brasil, ela chegou pela primeira vez em Curitiba, provavelmente com alguma muda de planta.
Entre 2002 e 2018, “subiu” do Paraná a São Paulo e já foi vista em Brasília.
O problema é que a joaninha asiática prolifera rapidamente, provocando o desalojamento de espécies nativas por onde passa.
Incrível, não é?
E a velocidade com que ela prolifera não deve ser ignorada, não.
Em apenas cinco anos, já somava mais de 90% entre as oito espécies de joaninhas pesquisadas no Paraná, incluindo a Cycloneda sanguinea, uma das mais comuns no país.
Além da joaninha asiática se alimentar dos afídeos (pulgões ou piolhos-das-plantas), ela come uma enorme variedade de frutas e pólen que não são consumidos pelas outras espécies de Coccinellidae, a família das joaninhas.
Por isso, a joaninha asiática conseguiu se adaptar muito bem no continente.
E segundo o entomologista americano Robert Koch, da Universidade de Minnesota, a América do Sul é um dos últimos territórios de conquista da Harmonia axyridis no planeta.
A área nativa de incidência do inseto se estende do sul da Sibéria, na Rússia, passando pela Coreia e Japão, e vai até a China.
O primeiro registro da presença da joaninha asiática no Ocidente foi na Califórnia, em 1916.
Nos anos 90, depois de já ter ‘’invadido’’ praticamente todos os Estados americanos, foi levada para a Europa.
Foi considerada espécie invasora também na África do Sul, em 2000, e em 2010, foi vista pela primeira vez no Quênia.
Em um estudo, os biomas da América do Sul foram comparados por Koch com as condições climáticas das regiões nativas da joaninha asiática.
A ideia era tentar antecipar o potencial de dispersão do inseto no continente.
Depois de realizar o estudo, o entomologista americano descobriu que o norte da Argentina e o centro-sul do Brasil eram regiões onde a joaninha tinha maiores condições de se estabelecer, além das áreas montanhosas do Chile, Bolívia e Peru.
Mas, nestas regiões, ela aparentemente ainda não chegou.
Outra espécie de joaninha importada da Ásia é ainda mais ameaçadora.
A Harlequin succinea se alimenta de várias outras espécies de insetos, inclusive de larvas de outras joaninhas, e frutos.
A joaninha-arlequim foi levada à Europa para ajudar no controle de pragas de outros insetos.
No entanto, mais uma vez o experimento deu errado.
A joaninha se reproduziu de uma forma avassaladora e passou a ser predadora de mais de mil espécies — entre elas, 45 joaninhas nativas da Grã-Bretanha.
Pior do que isso: passou a ameaçar a saúde dos seres humanos.
Que o diga o halterofilista inglês Reza Rezamand, de 31 anos.
Após sofrer uma picada da joaninha-arlequim, sua vida ficou por um fio e ele chegou a ouvir de médicos que tinha apenas 30% de chances de sobreviver a uma infecção causada pelo inseto que até então era considerado inofensivo.
Segundo publicou o jornal inglês The Sun, Rezamand estava saindo de sua loja de suplementos, na cidade de Stoke-On-Trent, na Inglaterra, quando foi atacado por três joaninhas-arlequim.
O halterofilista declarou ao The Sun:
“Não senti nada diferente até perceber que meu pé estava inchado naquela mesma noite”.
Ao se dirigir ao hospital, seu quadro começou a piorar.
Mesmo com antibióticos, os pés do fisiculturista de 1,82m, estavam com o dobro de tamanho menos de 24h depois da picada.
Rezamand ignorou os primeiras sintomas da infecção, mas isso quase lhe custou a vida:
“Tive sorte por ter sobrevivido”.